Alguma vez você já teve a sensação de ter feito algo ruim,
mas que aquilo não tinha a ver com você? Uma explosão de raiva, algo impensado
que possa deliberadamente ter prejudicado outrem, ou outra atitude extrema que
normalmente não teria? Pois você pode ter agido sob influência do efeito
Lúcifer.
O termo tem origem no famoso estudo do Presídio de Stanford, realizado
quatro décadas atrás pelo psicólogo americano Philip Zimbardo, na Universidade
de mesmo nome. Na ocasião Zimbardo foi responsável por uma experiência que
ficaria célebre por seu dramático desfecho. Através de um anúncio no jornal,
ele recrutou estudantes de graduação para participar de uma pesquisa: recriar
num laboratório o ambiente de uma prisão, de forma a estudar o comportamento
dos seus participantes. Mas o que era para ser um inocente experimento em
psicologia, terminou revelando um lado sombrio do ser humano. Divididos
aleatoriamente entre guardas e prisioneiros, os 24 voluntários paulatinamente
assumiram papéis macabros e foram tomados por um estranho comportamento, que
mais tarde seria batizado com o título “o Efeito Lucífer”.
Guardas tornaram-se implacáveis algozes, enquanto que os
cativos transformaram-se em alvos submissos de até então impensáveis
crueldades. Que estranhos mecanismos teriam tornado possível tamanha
transformação? Que malignas influências seriam capazes de operar tão dramática
metamorfose?
Planejado para durar
duas semanas, o experimento precisou ser interrompido depois de apenas seis
dias, de tão insuportável o ambiente que fora criado. Ainda assim, o próprio
líder do empreendimento permanecia alheio ao que ali ocorria - tanto que o
encerramento do estudo só se deu após o alerta de visitantes externos. Tão
imerso estava em seu papel, que Zimbardo não enxergava as atrocidades
praticadas embaixo do seu nariz.
O experimento do
Presídio de Stanford trazia à tona o indelével e muitas vezes imperceptível
poder do ambiente sobre as pessoas. A
poderosa influência do contexto sobre o comportamento humano, das situações
sobre a disposição interna, da coletividade sobre a individualidade. Para o
pesquisador, o opressor funcionamento de uma instituição como uma prisão - ou
uma empresa - servia como uma poderosa ilustração do poder de forças sistêmicas
e situacionais sobre uma ilusória sensação de invulnerabilidade do caráter. Revelava, assim, o impacto tóxico de
sistemas doentes e situações extremas, fazendo com que pessoas boas se
comportassem de forma patológica, opostas à sua própria natureza.
Numa empresa - assim
como na maioria das instituições - as situações reformulam os sistemas e criam
contextos comportamentais que influenciam as ações humanas daqueles sob o seu
controle. Em algum momento, sistemas adquirem vida própria, tornando-se
entidades autônomas e independentes, tanto dos que os iniciaram, quanto
daqueles (aparentemente) no controle. Eles desenvolvem, então, suas culturas
individuais formando, conjuntamente, o próprio tecido de uma sociedade. Deste
modo, sistemas doentes acabam por contaminar também suas engrenagens,
disseminando sua influência negativa por todo o ambiente.
Zimbardo identificou,
ainda, os sete passos que podem fazer com que pessoas boas sejam capazes de
atitudes ruins:
-dar o primeiro pequeno passo sem pensar;
- desumanização própria (quando se está anônimo numa
multidão, sua maldade é diluída entre os demais);
- desumanização do outro (é mais fácil fazer mal a alguém
quando não se vê ou não se sabe quem é essa vítima);
-difusão da responsabilidade pessoal;
- obediência cega à autoridade;
-adesão passiva às
normas do grupo;
- tolerância passiva à maldade através da inatividade ou
indiferença.
O Experimento de
Stanford serviu para alertar que a linha imaginária que gostamos de traçar
entre nós, pessoas boas, e eles, pessoas más, talvez não seja tão impermeável
quanto nos conforta pensar que é. Mostrou,
além disso, que todos nós temos a capacidade de sermos santos ou pecadores,
altruístas ou egoístas, gentis ou cruéis, dominantes ou submissos,
perpetradores ou vítimas, prisioneiros ou guardas. E que talvez sejam as
circunstâncias que determinem qual de nossos inúmeros modelos mentais - ou
potenciais - serão desenvolvidos e aplicados.
Fonte: www.pharmacoathing.com.br
Bem interessante!
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